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Nano Galeria apresenta exposição de arte urbana em São Bernardo

Daniel Melim e Fábio A. desenvolveram parceria inédita e ganham exposição exclusiva em espaço coletivo e inovador do ABC paulista...

No dia 20 de abril a Nano Galeria recebe a abertura da exposição Colisão, que conta com trabalhos de dois artistas do ABC paulista: Daniel Melim e Fábio A. Com curadoria do artista plástico Flávio Grão a exposição traz a fusão de trabalhos e técnicas desses dois artistas, que se conhece de longa data da cena underground.

A ideia inicial partiu da vontade de ambos de fazer obras coletivas, Daniel Melim reconhecido internacionalmente por seus trabalhos em estêncil e Daniel A. que desenvolve técnicas de colagem desenvolveram obras inéditas, e depois trocaram os trabalhos, para que o outro interferisse com sua técnica. O resultado possibilitou uma nova prática artística para cada um deles, que desenvolveram um método de trabalho no qual as técnicas já utilizadas foram incorporadas a novas em ousadas experimentações.

Durante alguns meses os artistas trocaram seus trabalhos e, através de intervenções e interferências, cada artista a seu modo interpretava, somava e criava algo único e contundente para cada uma das obras. A feitura dos trabalhos possibilitou aos artistas extrapolar suas zonas de conforto, tanto nas técnicas e práticas artísticas empregadas, quanto nos questionamentos em relação à autoria das obras produzidas.

O resultado desta colisão de dois mundos únicos e distintos são 51 trabalhos em papel A4, 2 telas e uma serigrafia, em que de modo surpreendente se revelam mais as afinidades do que as diferenças entre os artistas. Fica evidente uma visão de mundo comum onde prevalece uma leitura critica dos rumos da sociedade globalizada e neoliberal.

Como marca registrada a Nano Galeria coloca a venda todas as obras desta exposição. Os valores vão de R$400,00 à R$6.000,00.

Sobre os Artistas

Daniel Melim

Daniel Melim figura entre os principais nomes da arte urbana do Brasil. Produzindo seus trabalhos com a técnica do Stencil (graffiti feito através de máscaras vazadas) sua arte atinge a todos públicos possíveis: do despercebido transeunte do centro da cidade, passando pelo esquecido cidadão dos subúrbios da grande São Paulo, pelo mendigo que habita as fábricas abandonadas e pelos frequentadores de espaços como galerias e museus do mundo.

Aproveitando-se das texturas irregulares dos muros como suporte e utilizando imagens que remetem aos clichês, signos de propaganda e pop arte, suas cores fortes e marcantes são essencialmente democráticas tanto por estarem presentes nos mais diversos espaços sociais, tanto pelo caráter critico e politico que carregam.

Além de artista, Melim é articulador cultural e social, toca projetos como o do Jardim Limpão na periferia de São Bernardo do Campo e o zine Subsolo – Ruas do ABC, que resgata e narra a história da arte de rua da região onde vive.

É um dos artistas da pioneira galeria Choque Cultural e seus trabalhos já foram expostos em museus como o MASP e Pinacoteca do Estado de São Paulo e a Bienal de Valência na Espanha.

Fábio A.

O inquieto artista Fábio A. é um daqueles seres cuja busca pela expressão criativa torna-se inerente à sua própria existência. Talvez isso justifique a quantidade, qualidade e variedade da produção artística desse paulistano criado no ABC Paulista.

Começou sua produção no final dos anos 80 em zines onde conheceu a colagem como recurso artístico e também de diagramação. Sob o acabamento primoroso de suas colagens esconde se uma tensão constante que reflete as tensões contidas do homem na sociedade contemporânea e que às vezes se rompem ou explodem em forma de conflitos, revolta, caos e violência. O eterno embate entre civilização e barbárie.

Já ilustrou com suas colagens capas de cd, cartazes e faz trabalhos de para publicações nacionais e do exterior. Publica também a revista digital Número Único, com collagistas do mundo todo e que está indo para sua quinta edição.

#nano – galeria de bolso

A #nano abriu suas portas em junho de 2012 com o objetivo de oferecer arte autêntica e original a um preço possível e de fomentar a produção de jovens artistas.

Com estrutura enxuta (funciona em um espaço de economia criativa anexo ao Cabelo Café e o Estúdio de fotos Liquid Studio), uma receita para valores acessíveis, a galeria está situada em uma rua tranqüila em frente à Pinacoteca de São Bernardo do Campo e ao lado da lendária Cidade das Crianças e Estúdio Vera Cruz.

A criação da galeria se deu pela percepção de alguns amigos de que não há no ABC paulista um espaço para divulgação e venda de artes dos jovens artistas que vivem e trabalham na região. Além disso, perceberam que muitas vezes, ao tentar decorar suas casas ou colecionar arte, muitos compradores gastam dinheiro comprando gato por lebre, quando, por exemplo, adquirem reproduções de artistas famosos sem licenciamento em papéis de má qualidade, ou ainda quando compram quadros que na verdade são reproduções ou cópias pintadas a partir de modelos.

Os artistas que expõem na #nano têm uma produção consolidada e transitam nos universos da arte urbana, flertam com as linguagens e movimentos musicais e seus trabalhos estão nas ruas, galerias e museus do mundo. Por pouco investimento o comprador poderá levar um pouco deste universo para sua casa.

Serviço
Exposição – VERSUS I – COLISÃO – MELIM x FÁBIO A.
Abertura: sábado, 20 de abril de 2013 – das 15:00 às 19:30 horas
Visitação: de 20 de abril à 20 de julho de 2013. Terça à sábado – das 11 às 18 horas.
Rua Kara 74 – São Bernardo do Campo – SP – Tel 4367 2874

Colaboração de Ana Mesquita, jornalista freelancer amante de cinema. Twitter: @anamesquitafoto
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Os melhores discos brasileiros de 2012

Por Ana Mesquita | 

Trabalhos Carnívoros – Gui Amabis

Segundo disco do músico e produtor Gui Amabis “Trabalhos Carnívoros” lembra demais a sonoridade de Vagarosa, disco da cantora Céu produzido por Gui. No entanto não se engane e ache que é uma cópia: Gui segue um caminho sonoro próprio, com batidas, programações e ecos, que te levam pra outros lugares. “Merece quem Aceita” lembra a obra de Elomar, e por consequência, a trova produzida na Idade Média, os arranjos de violinos colaboram pra esse clima. A poética das letras é extraordinária, frases como “e quanto a terra mira o espaço o verso tropeça no amor” ou “agora eu vejo o que sinto, e tudo faz bem mais sentido”, são descrições íntimas do caminho percorrido internamente de autoconhecimento.

É corajoso expor-se dessa forma. Em seu disco anterior Gui emprestou suas composições para que osamigos a cantassem, já nesse novo trabalho o próprio Gui assume os vocais, dando mais sentido ainda a tudo que canta. Baixe agora!


Pré-Ambulatório – Lê Almeida

Direto da baixada fluminense o novo EP de Lê Almeida traz 9 canções do mais belo rock garage pra esse mundo. Guitarra distorcida, letras intimistas e românticas, influências de country music e pedalera comendo solta nas cordas. Pode parecer um tanto quanto saudosista escutar o som de Lê, afinal era o que eu ouvia diariamente no anos 90, quando era adolescente. Mas o interessante mesmo é saber que esse tipo de som ainda é feito com tanta qualidade aqui no Brasil. Um dos aspectos mais interessantes desse disco é a forma de gravação: O músico gravou tudo no seu computador, em sua casa mesmo.


O disco saiu pelo selo Transfusão Noise Records, pra mim uma das melhores descobertas do ano, já que eu não conhecia o blog do selo, recheado de boas bandas de rock independente, como o Medialunas e o Hierofante Purpura. Vá baixando os discos e EP do Transfusão aos poucos e apreciando tudo que tem por lá, e claro, Pré-Ambulatório.


Bahia Fantástica – Rodrigo Campos

Já escrevi sobre esse disco aqui no Pastilhas e de tudo que ele representa pra mim, ou seja a minha paixão aguda e incurável por Salvador e tudo que aquela representa musicalmente falando. Mas além da dimensão emotiva do disco, a qualidade do conjunto dessa obra é inegável, Maurício Fleury nos teclados e Thiago França no sax fazem uma diferença brutal para os arranjos da obra. A participação de Criolo em Ribeirão é avassaladora, uma das mais belas melodias do disco. E a melhor cantora brasileira da atualidade – Juçara Marçal – cantando Jardim Japão é algo pra se prestar atenção mais de uma vez.

Tem como fazer o download pelo Sound Cloud, aqui... soundcloud.com/rodrigo_campos

LP – Elma

Uma das melhores bandas de rock do underground paulista, os caras batalham muito pra tocarnos lugares e se manterem íntegros no tipo de som que fazem, o Elma tem um dos melhores  shows de rock que já vi na vida, tudo é muito intenso, grave e barulhento. E aí os meninos lançam esse super disco bem produzido e que já pela forma do download você sabe que vai sair em vinil também. A dose de distorção tá aqui, mas aliada a riffs melódicos, quebrados e insanos. Nem tinha como ficar de fora essa maravilha aqui. Baixe:


Metal Metal – Kiko Dinucci, Juçara Marçal e Thiago França

Difícil escrever algo sobre um disco sobre o qual já saiu resenha em praticamente todos os jornais, revistas, sites e blogs de música. E mais: integra 80% das malditas listas de fim de ano. Não é a toa que o Metal Metal é o único trabalho que integra minha lista de melhores shows e discos, o trabalho é surpreendente. Ao contrário do disco anterior, que conta com músicas de vários compositores, as músicas de Metal Metal são em sua maioria de Kiko Dinucci, e mais, não são músicas inéditas, eu mesma já tinha ouvido parte do repertório do disco nos shows em conjunto, ou nos projetos solos dos integrantes do trio. O disco é foda porque é inovador, não se parece com nada, talvez o Metá Metá pode ter indicado os caminhos de Metal Metal, mas duvido que tenha sido intencional. Um dos grandes problemas da crítica de arte é sua incapacidade de realizar uma leitura eficaz de sua contemporaneidade, e nesse mundo fragmentado e bombardeado de informações a empreita fica mais difícil. Metal Metal entra em outra categoria, pois não deve ser analisado sobre a ótica da racionalidade e sim, a partir dos sentidos e percepções de seus críticos. Por isso é difícil falar sobre o disco, pois possivelmente estamos frente a uma obra que possa mudar determinantemente a música brasileira. Rock, música brasileira e orixás já haviam feito sentido em outra época, agora esses elementos estão resignificados. Ouço umas três vezes por dia desde que foi lançado.
Uma observação: Thiago França está excepcional nesse disco, eu mesma o considerava um saxofonista limitado, mas me surpreendi com o som que o cara faz aqui.


O Mundo não Acaba Nunca – Krias de Kafka

Tá, eles são meus amigos e estou colocando eles nessa lista por serem meus amigos e também por tudo o que representa o lançamento do disco desses caras. Caros leitores, se vocês se derem ao trabalho de ouvirem pelo menos uma das músicas vão saber o que estou dizendo. 

O disco é ducaralho!!!! É urbano, é operário, é poético, é cachaceiro, é sem esperança! Vindos da decadência da cena musical de Santo André, a banda encabeça um dos movimentos independentes da cidade junto com outras cinco bandas: tô falando da Cenaandreense, que carrega nas costas a organização do rock independente de André City há alguns anos. Os integrantes da banda sempre estiveram envolvidos de uma forma ou de outra nos movimentos culturais da cidade, principalmente o literário, Mateus Novaes, vocalista das Krias, lançou neste ano o livro de poesias “Desistencia”, sucesso total no underground local. Fiquem atentos as letras das Krias de Kafka, sujeira e marginalidade nas veias. Adoro!!!!


Ana Mesquita é colaboradora do Pastilhas Coloridas e jornalista freelancer amante de cinema. Twitter: @anamesquitafoto
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Os melhores shows que vi em 2012

Por Ana Mesquita |

Glenn Branca – Mostra Sesc de Artes (Teatro do Sesc Belenzinho)


Já sabia que seria porrada, mas não estava completamente preparada, passei mal, literalmente, fiquei tão atordoada que após o show as pessoas vinham falar comigo e eu não sabia o que estava falando: reagir socialmente era um ato mecânico. O cara veio pra reger quatro guitarras um contra-baixo e uma bateria, mas a figura desse americano grisalho era um show a parte, todos ali sabiam que quem havia escrito aquelas partituras que os músicos liam com tanto respeito era o cara que estava a frente, evocando as entranhas de cada guitarra que existe no universo a cada gesto de sua regência. Pode parecer meio exagerada essa descrição, mas só quem estava presente naquele teatro sabe do que estou falando. Sentar-se na terceira fileira só piorou – ou melhorou – as coisas, o som estava alto, muito alto, e não demorou muito para que este tomasse conta de cada centímetro daquele espaço. 

Parecia que os amplificadores estavam direcionados somente para a mim, porque, imaginava eu, não era possível ser tão alto! Depois descobri que era uma sensação geral, e mesmo quem ficou no mezanino não teve os tímpanos poupados: as P.As estavam estrategicamente direcionadas para a parte superior do teatro. A cada peça executada só crescia cada vez mais a minha certeza que estava diante de um gênio, um artista, micro tons, repetição, arranjos, tava tudo ali, meu deus! Acho que lá pela terceira ou quarta peça a música me dominou, minha vontade era sair rolando pelo pedaço de chão que havia entre o palco e as poltronas. Contive-me, mas o desejo seguinte era levantar da cadeira e me encostar, de pé, no fundo do teatro, pra ver se essa onda de sentidos passava. Esperei pacientemente e mantive meu posto na poltronada terceira fileira. Já meu companheiro de empreita não conseguiu, e na música seguinte se levantou e foi embora a pé, não até o metrô Belém – o mais próximo ali – e sim até o centro da cidade. São experiências como essa que fazem valer a vida!

Agora é necessário fazer alguns comentários sobre a Mostra Sesc de Artes. Esse evento sescquiano já teve muitos nomes diferentes, e o que eu me lembro mais remotamente foi o Balaio Brasil em 2000, independente do nome o objetivo do evento sempre girou em torno do mesmo eixo, que é trazer a vanguarda da produção artística do Brasil e do mundo para a cidade de São Paulo. Este ano não foi diferente e a qualidade da programação – e não só a musical, mas das outras artes também - extrapolou as expectativas de quem acompanha arte.

No entanto a logística e a divulgação do evento foram sofríveis e aqui cito um caso de dois shows que deixaram os apreciadores de jazz loucos. Wadala Leo Smith e Peter Brötzmann nos mesmos dias e horários, em locais diferentes, e pra completar, no final de semana, dia em que geralmente músicos estão trabalhando. Sei que o público do Sesc não são exclusivamente músicos mas esses caras não tem projeção midiática, muito menos um grande público no país, e entrepor esses shows dessa forma, pra mim, foi um tiro no pé. Fui ao show do Brötzmann e não estava lotado, acredito que o Wadala também não estava, já que um dia antes do show recebi um e-mail do Sesc Vila Mariana onde dizia que eu havia ganhado um par de
ingressos pra ver o Wadala, mesmo sem ter participado de nenhuma promoção. Fica a dica para os realizadores e programadores se aterem com mais cuidado a esses dois aspectos tão essenciais quanto a programação em si, no caso divulgação e logística. O público merece apreciar cada uma das excepcionais atrações internacionais que vieram ao Brasil e passaram praticamente batidas.


Manchester Orchestra – Lollapalooza Brasil (Jockey Club)

Vi shows incríveis no Lollapalozza Brasil, fui aos dois dias e tentei fazer uma seleção que me poupasse fisicamente – os 33 anos já pesam minha gente! – e que me agradassem sonoramente. Quem me conhece sabe que fui ao Lollapalozza pra ver Foo Fighters, uma de minhas bandas preferidas da vida, e eu não tô nem aí quem acha que essa paixão juvenil por uma banda é besteira. Tô pouco me fodendo. O fato é que tive a oportunidade de ver shows incríveis, como o Jane’s addiction e do TV on the Radio, mas a grande surpresa ficou com os garotos do Manchester Orchestra. Eu já tinha baixado o disco deles em 2011 e minhas impressões sobre a banda foram “ok, banda boa, vamos deixar ela aí na pasta das minhas músicas e ouvir esse som”. Eles confirmaram a vinda ao Brasil quase de última hora, só em fevereiro veio a confirmação. E o que ouvi foi uma banda com três guitarras altas, bem altas, tocando com violência e coerência, as mais belas letras de amor e dor da juventude americana. Peso, esse foi o nome do show. Eu havia gostado do disco e considero que o show foi muito superior ao disco. Das felicidades daquele domingo de outono.


Rodrigo Caçapa – Prata da Casa (Choperia do Sesc Pompéia)

Prata da Casa é há muito tempo um espaço para o novo, é daqueles tipos de eventos semanais que sempre vale a pena dar uma passada, mesmo que você não conheça a banda, com o único objetivo de ouvir e ver ao vivo bandas pouco usuais nos circuitos de shows paulistas, é também uma espécie de plataforma de lançamentos. Foi mais ou menos o que aconteceu nesse show, Rodrigo Caçapa havia lançado Elefantes na Rua Nova em 2011, mas o show de lançamento em São Paulo foi neste show do Prata da Casa. Fiquei completamente encantada com o show que vi desse rapaz pernambucano que realizou um resgate das violas de 10 e 12 cordas nordestinas, em um show que contou ainda com viola-baixo, sendo que as cordas estavam eletrificados e com pedais. O nome das músicas é o nome do próprio ritmo, ou seja, baiano, coco, samba. Acompanhado da percussionista Alessandra Leão, o show foi um dos melhores que vi no ano, dada a delicadeza, modernidade e ancestralidade daquelas composições. Filha de nordestinos que sou, encheu meus olhos d’água.


Circuito de Improvisação Livre (Matilha Cultural, Cidadão do Mundo, Bar B, Serralheria e outros)

Sem dúvida um dos melhores eventos criados neste ano de 2012 para quem aprecia música. Músicos de várias partes da cidade de São Paulo e do ABC paulista que se encontraram dentro das oficinas de Livre Improvisação do Centro Cultural São Paulo decidiram criar o SPIMPRO. A fórmula é muito simples: a cada mês um dos cerca de 20 músicos que integram o grupo é o curador das apresentações. Ele é o responsável por criar duplas, trios, quartetos ou quintetos diversos entre os membros do grupão, que conta com guitarristas, baixistas, trompetistas, bateristas, saxofonistas e outros. O curador concilia as agendas dos músicos com as datas disponíveis para as apresentações nas quatro casas noturnas onde acontecem os shows. 

O que temos a cada mês são apresentações únicas, com grupos que as vezes nunca tocaram juntos, improvisando a partir deles mesmo. Sem ensaios, sem combinações prévias, só sentindo a música. Mas não é tão simples assim, existe uma lógica, uma técnica, uma intencionalidade emtodos os sons que saem dessas apresentações. Frescor, inovação, abertura sonora ao peculiar, é isso o que os ouvintes ganham ao acompanhar essa turma da pesada. É um movimento de retroalimentação, já que a cada apresentação novas possibilidades se abrem tanto para quem aprecia a música quanto para os integrantes do SPIMPRO, que estimulam a criatividade, técnica, as possibilidades de construção sonora e estudo musical. Só nos resta torcer para que o pique desses distintos senhores e senhoras continue ao longo de 2013 para que mais pessoas possam ver essas apresentações. É um trabalho de construção de público, coisa raríssima de se ver nesse mundo da música. A prova viva foram as apresentações no Cidadão do Mundo, em São Caetano do Sul, na qual o público foi crescendo gradativamente com o passar dos meses. Só pra constar: livre improvisação não é free jazz, apesar das similaridades.


Siba – Plataforma (Choperia do Sesc Pompéia)

Clássico caso em que o show é infinitamente superior ao disco. Gostei do disco, da história da guitarra (como não amar guitarras nessa trajetória rock que tenho?), das letras, mas a sonoridade me pareceu toda arrastada, difusa, algo ali não encaixava. Vi onde se encaixava as coisas ao ver Siba e todas suas entranhas em cima do palco da deliciosa Choperia do Sesc Pompéia. Duas horas e meia de show, quase que perco o último 154 pra Rudge Ramos, que saí lá do Terminal Sacomã. Cantadores, repentistas da Zona da Mata pernambucana improvisando horrores, rock, transformação, redenção e sinestesia. É desse disco uma das mais belas canções do ano, no caso “Preparando o Salto”, música que abre o disco Avante, porque não há
vida sem transformação contínua, sem dor, sem derrotas. Passar por isso, mudar e preservar a
essência é o que dá sentido à vida.



Metal Metal – Lançamentos (Teatro do Sesc Vila Mariana)

É até sacanagem falar qualquer coisa sobre esse show, quase que não era possível terminar de ouvir as músicas, os aplausos irrompiam antes mesmo de elas terminarem de serem executadas. Meu amigo que me acompanhava nesse show, Rafael Franco, disse que foi o melhor show que ele viu nos últimos tempos da vida dele, tava entre os melhores da vida. E eu sou muito fã do trabalho desse trio, que deixou minha cabeça zonza de tanto barulho que fizeram no careta teatro do Sesc Vila Mariana.

Difícil manter-se sentado num show como aquele. Mas a plateia mais blasé do que desavergonhada manteve-se em sua maioria sentada.

Dessas coisas que eu particularmente odeio nos paulistanos que frequentam o underground da música brasileira. Meu coração deve ter parado alguns segundo quando Juçara cantou Oya. Fiquei sem ar, precisei de água pra não entrar em transe. Kiko Dinucci e seu relacionamento sério e instável com sua Fender, e Thiago França mostrando que estudar o instrumento é prática de seu dia-a-dia, pois a evolução é nítida. Já podia acabar o ano ali, toda a beleza estava concluída pra minha alma.


Ana Mesquita é colaboradora do Pastilhas Coloridas e jornalista freelancer amante de cinema. Twitter: @anamesquitafoto
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Os 5 discos gringos que mais ouvi em 2012

Por Ana Mesquita | 

A lista abaixo não pretende ser um rank, são somente minhas impressões pessoais sobre os discos gringos lançados neste que mais ouvi ao longo de meus dias. É também uma tentativa de remissão, pois estive ausente por demais das páginas do Pastilhas.

Enjoy!

The Cherry Thing – Neneh Cherry and The Thing

Uma das parcerias mais inusitadas que já vi na vida resultou no melhor disco do ano. O pouco que me lembro do som da Neneh Cherry não me agrada, já não posso dizer o mesmo do The Thing, pois free jazz e punk rock me agradam demais da conta. Até o lançamento deste disco acreditava que a única coisa que poderia ligar Neneh e The Thing era a nacionalidade sueca de ambos, bem como a admiração do grupo de free jazz pela obra do pai da moça. Por isso a surpresa – e isso sempre é um elemento que levo muito em consideração na hora de passar a gostar de um som – quando ouvi esse disco. É um disco de meio-termo, e apesar de não gostar muito do “mais ou menos” ou o “pela metade”, esses termos aqui não se aplicam.

Nunca curti o som da Neneh, e o som do The Thing atinge somente um nicho de mercado, não é fácil de ser digerido. The Cherry Thing pôde trazer elementos sonoros sofisticados para a deliciosa voz de Neneh, e ao mesmo tempo propiciou que um público que habitualmente não se aproxima do free jazz ter uma vislumbre de como esse gênero pode se fundir com outros estilos. Neneh ganhou estilo e força, The Thing pode circular por novos públicos. Um empate onde todos ganham.

O repertório escolhido é fascinante, destaque para a versão Too Tough to Die, de Martina Topley Bird, cantora singular da qual sou muito fã, já Sudden Moment é a mais bela melodia do disco, o caminho melódico da voz de Neneh e do sax de Mats embriaga os sentidos, eleva o espirito. O ponto alto é a versão de Dirt do The Stooges, música que tem tudo a ver com o promissor projeto. Esperamos ansiosos que a parceria dê mais frutos.


Lonerism – Tame Impala

A música “Led Zepellin” entrou como um furacão em minha alma. Peguei o link no sempre ótimo Trabalho Sujo, do Alexandre Matias. Fui caçar e descubro que o Tame Impala veio pro Brasil fazer um show incrível – dizem – no Cine Joia. Eu até lembro-me de ver algo relacionado ao grupo nos blogs de música, mas confesso que não me dei ao trabalho de ouvir a banda. Bem, apesar do show perdido, fui atrás daquela banda que soa parecido com várias coisas que eu gosto, e que eu não gosto também (aqui uma observação: nunca gostei de Led Zeppelin, meu caminho na música sempre foi mais pelo lado do barulho do que pelo do rock com influências bluzeiras, só muito recentemente fui entender o que era Rolling Stones e, como quase tudo em minha vida, a partir de conversa, explicações e audições com os amigos para que aquilo fizesse sentido, a verdade é que nunca tive um amigo que se dispusesse a me explicar sobre Led Zepellin), mas que tudo junto dá um caldo delícia.

Lonerism chegou ao mercado no começo de outubro e pelo que pude perceber muito aguardado pelos fãs e crítica. O show que os garotos – uns moleques! – fizeram no

Lollapalooza de Chicago estava lotadaço, apesar de terem tocado no meio da tarde. Dizem também que os shows no Brasil arrebentaram. Rock psicodélico, guitarra altas, Beatles, Cream... tudo soa como o rock setentistas, mas tem um pegada atual, com música pop, eletrônica, teclados.

A grande verdade é que o Tame Impala, apesar de sair em turnê e existir fisicamente como uma banda de fato, é uma banda de um homem só, no caso o australiano Kevin Parker deapenas 26 anos. É ele que compõe, toca e grava praticamente tudo em Lonerism, em seu estúdio em Perth – capital da Austrália Ocidental. Canções como Endors Toi e Keep on Lying me deixam num estado de felicidade desgraçado, principalmente quando você se dá conta que a maior parte das músicas do rapaz versa sobre solidão. Ouvir Mind Mischief nos fonesde ouvido, dando um role pela cidade, faz qualquer viagem de trem parecer surreal. Em entrevista à uma publicação inglesa perguntaram ao chapado - só pode ser - Kevin qual aprincipal diferença entre o Innerspeaker (incrivelmente genial primeiro disco do Tame) e o Lonerism e, segundo a revista, ele respondeu mais ou menos assim “First he suggested Lonerism contained "melodies that beam at you rather than wash over you". Then he reconsidered, suggesting instead that its songs were "more like an explosion rather than a wave". And then he decided the new songs were quite like a wave after all: "Like waves that hit you rather than you swimming in an ocean of melody," he offered, adding a hopeful "know what I mean?"”

Tente traduzir a sinestesia agora.





Shields – Grizzly Bear

Um dos discos que mais ouvi neste ano, Shields me fez companhia nas idas de trem pra Mauá e também nas longas esperas geladas pelo 154 no Terminal Sacomã (que possui um microclima próprio), as canções dolorosas me botavam no chão: a pesar da vida ir muito bem obrigado, nunca se esqueça de toda a dor que pode conter dentro de alguém. Apesar desse álbum ter mais teclados e piano e menos guitarra do que o disco anterior - Veckatimest - os elementos que me fizeram se apaixonar pela banda continuam lá: melodias belíssimas, ecos, e letras que falam de perda, solidão e desilusão. The Hunt provavelmente é a música mais triste que eu ouvi neste ano, a voz de Edward Droste carrega de significado cada palavra dita na canção, música pra escutar debaixo do edredom num dia cinzento, de preferência chapado de vinho, na real eu ouvia indo pro Jardim Zaíra. “A Simple Answer” é a minha música preferida, diz a lenda que ano que vem os rapazes farão show no Brasil, estarei esperando ansiosamente.



Between the Times and the Tides – Lee Ranaldo

Fiquei tão apaixonada por esse disco que até esqueci que o Thurston Moore tinha lançado também um disco solo uns tempos antes. Também, é o disco do meu integrante preferido da banda que mais gosto no mundo inteiro. Pra quem gosta de Sonic Youth é um belo drink a ser consumido sem moderação, apesar de ter saído no primeiro semestre, ainda continuo ouvindo quase todos os dias. A balada Hammer Blows traz Lee ao violão, tocando com e para a alma, mas o que mais me chama a atenção nesse disco é sua urbanidade. É incrível como faz sentido – e essa característica sempre esteve presente na obra solo de Lee, bem como de suas canções no Sonic – que sua música remeta a uma experiência de vida específica num ambiente, ou seja, a vida numa grande metrópole, e diz muito sobre nós mesmo enquanto sociedade e também quanto a nossas angústias, medos e pequenas alegrias cotidianas.

O fim do Sonic Youth foi um baque para os fãs, mas vamos combinar que o vigor do quarteto havia se esvaído, provável – e aqui é pura especulação – devido ao cotidiano e ao tempo.  Mas as peripécias solos dos integrantes não tem deixado nada a desejar, na verdade nunca deixaram, pois todos os integrantes sempre tocaram seus projetos pessoais. E o respeito mútuo que nutrem pelas obras solos pode ser percebido pelo site oficial da banda, que cultiva notícias e páginas individuais de cada um deles. Ali é possível chegar um pouco mais perto da profícua obra de Lee Ranaldo. Dá um conferes:



The Idler Wheel Is Wiser Than the Driver of the Screw and Whipping Cords Will Serve You
More Than Ropes Will Ever Do - Fiona Apple

Escrevo com a mágoa do cancelamento, Fiona cancelou os shows que faria na América doSul por conta de seu cachorro, que está a beira da morte. Pra explicar isso aos fãs, escreveu a mão uma carta de 4 páginas, que entre pedidos de desculpa e explicações pela sua não vinda ao Brasil, Fiona coloca a relação que tem com seu cachorro como a mais duradoura em sua vida adulta. A partir desse breve relato temos um breve vislumbre de como é essa garota de 35 anos, que lançou estrondosamente seu primeiro disco aos 19. Em The Idler Wheel... Fiona continua um caos, expõe seus sentimentos e medos nas letras metafóricas. Mas também precisa ser uma garota muito corajosa pra escrever uma música como Jonatan, onde Fionaassume que stalka seu ex-namorado. Chega a ser violenta a forma como a garota toca piano nas canções desse álbum, soando mesmo como um instrumento de percussão, a parceria com o baterista Charley Drayton continua dando certo, e apesar dos poucos elementos sonoros, a riqueza dos arranjos e inventividade harmônica faz desse disco um dos melhores do ano. Ouvi muito esse disco, chorei algumas vezes ouvindo-o também. É um disco pra vida, nada mal pra quem ficou 7 anos sem lançar um trampo novo. Saca esse som que lindão.



Ana Mesquita é colaboradora do Pastilhas Coloridas e jornalista freelancer amante de cinema. Twitter: @anamesquitafoto
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Expresso Jazz chega a sua terceira edição

Marcelo Monteiro Trio e o grupo Martinez são algumas das atrações da 3º edição do festival
Por Ana Mesquita | 

Saindo fora da caretice, do mainstream, do circuito Sesc e do senso comum, acontece neste sábado e domingo o Expresso Jazz, Festival com uma particularidade que o torna tão interessante para cidade de São Paulo. O resgate e preservação da história e trajetória do jazz na Paulicéia desvairada.

As garotas da Erativa, as irmãs Mariane Bonardi e Inti Queiroz, lutam há tempos no circuito de produção musical para fazer festivais fora de um padrão - estipulado sei lá por quem - estético e elitista. O foco aqui é a música de qualidade e a descentralização curatorial, privilegiando artistas que fizeram história, e também a nova geração que constrói sua trajetória no jazz paulista.

Outro aspecto que acredito ser um grande ponto positivo para o Expresso Jazz é a parte formativa. Se a proposta do evento é resgatar a e segmentar a história do jazz em São Paulo, não adianta a coisa ficar só nas apresentações musicais. Por isso duas palestras serão ministradas com esse objetivo.

Na edição do ano passado: a feira de vinil e Galvão do Otis Trio atacando ao vivo
A segunda edição do evento, no ano passado, foi um arraso. Realizada na Funarte e na Casa das Caldeiras, os dois dias do evento tiveram lotação esgotada. Eu fui somente ao show na Funarte, e vi uma das melhores apresentações do Otis Trio, banda aqui do ABC de amigos desta jornalista e também velha conhecida deste blog aqui. Após o show dos rapazes do ABC, Arismar do Espírito Santo subiu ao palco com seu filho. O som deu problema, mas o cara é tão carismático e simples, que conseguiu fazer praticamente um talk show com a adversidade. Momento único de entrega, diversão e simplicidade com um dos maiores instrumentistas brasileiro. No segundo dia a coisa toda aconteceu na belíssima Casa das Caldeiras. Não fui, mas vi as fotos: o negócio bombou, lotação esgotada. Aqui uma amostra da parada.



A terceira edição acontece neste final de semana, nos dias 30 de junho (sábado) e 1º de julho (domingo). No sábado a bagunça rola no Bar Brahma, lugar que tem abrigado alguns shows do Jazz nos Fundos, que saiu da elitista zona oeste e invadiu o centro da cidade com shows de música instrumental. E no domingo todos os caminhos levarão os amantes do jazz para a Casa das Caldeiras. O evento é gratuito, afinal tem grana de edital para a realização, mas no Bar Brahma existe a consumação mínima de R$20,00. Por conta do sucesso da edição anterior quem tiver interesse deve enviar nome para a lista. Confira abaixo a programação completa:

SÁBADO - 30 de junho de 2012 - 20h

LOCAL: Bar Brahma
Endereço: Av. São João, 677. Centro. São Paulo – SP
Capacidade 350 pessoas
Consumação R$20,00 – Entrada somente com nome na lista
Enviar o nome para lista até o dia 29 de Junho, as 18h
LISTA 1: brahma.expressojazz@gmail.com (lista válida somente para o sábado no Bar Brahma)

- 21h - Palestra Arismar do Espírito Santo: Jazz na Terra aos homens de boa vontade - O Jazz como linguagem universal
- 23h - Show Martinez
- 00h - Show Trio Corrente

DOMINGO- 1º de julho de 2012 - 14h

LOCAL: Casa das Caldeiras
Endereço: Av. Francisco Matarazzo 2.000 – Água Branca – São Paulo
Capacidade: 800
Entrada Franca – Entrada somente com nome na lista
Enviar o nome para lista até o dia 29 de Junho, as 18h:
LISTA 2: caldeiras.expressojazz@gmail.com (válida somente para o domingo na Casa das Caldeiras)

- 14h as 21h Feira de Vinil
- 14h Oficina de Lindy Hop
- 14h Palestra Tito Martino : Descobrindo um tesouro: Jazz de Raiz
- 16h as 21h - Shows: Tito Martino Jazz Band, Skafandros, Anderson Quevedo Quarteto, Marcelo Monteiro Trio, Andre Juarez e Le Petit Comitê

Ana Mesquita é colaboradora do Pastilhas Coloridas e jornalista freelancer amante de cinema. Twitter: @anamesquitafoto
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Rodrigo Campos e sua Bahia Fantástica

Por Ana Mesquita | 

Mítica, idealizada, assustadoramente poética e bela. É dessa forma que Rodrigo Campos encara e se aproxima da Bahia. Em seu mais novo disco, lançado no inicio de maio, ele começa avisando “Daqui pra lá não vá dizer /Que a Bahia não lhe achou”. Quase uma reafirmação de que sim, isso aqui que vocês vão ouvir agora também é Bahia.

Foto: Fernando Eduardo 
A sonoridade de Bahia Fantástica é diversa de seu disco de estreia “São Mateus não é um lugar tão longe assim”, se com o primeiro disco Rodrigo passou a ser identificado com a nova geração de sambistas paulistas, Bahia Fantástica dá um nó nos rótulos e mostra que a grande influencia de Rodrigo é a música de alma negra. Seja o samba, o afrobeat ou a soul music americana.

A concretização de tudo isso se dá no palco. Quase como o Cinema, que só se concretiza como obra de arte no momento da exibição, pra mim - e isso é uma experiência particular e pessoal - um disco “nasce” no palco, com a experiência de dedicação e prazer do músico que toca e canta, e do público, que aprecia, visualiza e sente o som. Ontem as rememorações de Rodrigo sobre a Bahia puderam ser compartilhadas no Teatro do Sesc Vila Mariana (com ingressos esgotados).

Engraçado perceber que cada um dos músicos que acompanharam Rodrigo na maior parte das músicas passam pela minha história de escrivinhações aqui no Pastilhas Coloridas. Kiko Dinucci na guitarra e Marcelo Cabral no baixo elétrico fazem parte do Passo Torto. O Kiko é quase um habitué do Pastilhas, pois eu já o entrevistei e também já resenhei o Metá Metá, disco que conta com Thiago França, que também tava lá no palco do Sesc, contribuindo lindamente com sax, flauta transversal e EWI. Na bateria Maurício Takara, também entrevistado por mim lá no comecinho de minhas contribuições pra trupe pastilhenta. Mauricio Fleury nunca apareceu em meus textos, mas um de seus projetos já apareceu por aqui, no caso o Bixiga 70 (os caras tocaram no Conexão Africa, realizado no Sesc Santo André, no fim de 2011).

Foto: Fernando Eduardo -  http://www.behance.net/crewactive
Todos são músicos que admiro e curto muito o trabalho, e foi extremamente comovente vê-los juntos no palco. Seguindo a mesma ordem das músicas do disco, Rodrigo abriu com “Cinco Doces”, a música parecia não encaixar, faltava algo ali. Alguns instrumentos (como a guitarra) com volume baixo demais e a sensação de som abafado chegava para a plateia. Sem respirar, Rodrigo emendou “Princesa do Mar” e o som começou a soar melhor, mais uniforme. Daí em diante foi uma pedrada atrás da outra e as participações especiais também foram de peso. Seguindo a mesma ordem do disco, primeiro entrou no palco Criolo cantando “Ribeirão”, a mais bela melodia que ouvi nesse ano. 

Depois Luisa Maita entrou e cantou duas músicas, uma do primeiro disco de Rodrigo e “Morte na Bahia”. Confesso a vocês que não gostei das gravações das garotas no disco. Achei a voz de Luisa fraca, um pouco vazada, sem energia, e a de Juçara Marçal, que canta “Jardim Japão”, eu não curti a cadência. A o vivo foi outra história. Luisa mandou muito bem nas duas músicas que cantou e Juçara, bem Juçara protagonizou a performance mais catártica da noite. O teatro era só voz de Juçara. Não conseguia me mexer quando acabou a música, nem aplaudir, estava estarrecida diante daquela potencia da natureza. O público aplaudiu longamente e de pé. Vasculhando minha memória, não me lembro prontamente de uma ovação dessa tipo, ou seja, no meio da apresentação e para uma cantora que fazia participação especial. Todos foram atingidos, de uma forma ou de outra, por aquela voz.

Foto: Fernando Eduardo -  http://www.behance.net/crewactive
Quando fiquei sabendo do disco, no segundo semestre do ano passado, as notícias que me chegavam eram de que Rodrigo havia ido para a Bahia, se hospedado no quarto de Vinicius de Morais, na Praia de Itapoã, e que havia se “contaminado” por toda aquela atmosfera. Não é surpresa todo o encantamento de Rodrigo com a Bahia, fui pra Salvador pela primeira vez em janeiro desse ano e voltei verdadeiramente outra pessoa. É impossível andar pela cidade sem ouvir um som, é a cidade mais musical que já conheci na vida, o silêncio nem mesmo se faz presente nas praias mais afastadas da cidade. A Bahia de Rodrigo é idealizada, quimérica. Longe do real. Itapoã é hoje em dia um bairro perigoso. Era a única agenda certeira quando cheguei a Salvador: ir para Itapoã. E meu amigo Mário não entendia: o que eu queria fazer lá, a praia não era legal, muito cheia, bairro perigoso. A ladainha de bairro perigoso continuou no busão, quando resolvi ir sozinha pra lá, o cobrador ficou realmente preocupado com o fato de uma garota paulista dar uma banda sozinha por lá.

O fato é que eu precisava ver e sentir as influências de Vinicius de Morais. Precisa saber dessa Bahia dos álbuns clássicos da MPB. Precisava ver o mar de Itapoã e suas barracas de pescadores. E pelo visto Rodrigo também foi guiado por esse instinto, essa Bahia do sonho paulistano, do paulista apaixonado pela Bahia. Os contos e causos musicados por Rodrigo me fazem viajar pra lá. Em “Beco” imagino claramente essa molecada em Itapoã. Em “General Geral” e “Capitão” toda a carga de história do Brasil vem junto no imagético musical, é a Cidade Baixa e o Centro Histórico.

Foto: Fernando Eduardo -  http://www.behance.net/crewactive
A última música do disco “Sou de Salvador” é um afrobeat, pizzicato nas guitarras, sopro e o beat estilo Tony Allen, uma das mais envolventes. Outro aviso na letra “Sou de Salvador / Cheguei na Bahia de manhã”, nos traz a sensação de pertencimento a algo maior, que é na verdade a sonoridade baiana. Basta botar os pés em Salvador que tu já se sente parte de tudo que seus olhos cruzam. No show, todos que participaram do disco subiram ao palco para cantar essa música, inclusive Rômulo Fróes, que produziu o disco com Gustavo Lenza (que estava na mesa de som) e todos os outros músicos da banda. Um trabalho coletivo de alto nível.

Ana Mesquita é colaboradora do Pastilhas Coloridas e jornalista freelancer amante de cinema. Twitter: @anamesquitafoto
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São Luís e a atoíce ludovicense

Esquentando o couro do tambor / Foto: Ana Mesquita
Por Ana Mesquita | 

“Aqui na verdade é centro-norte, e não nordeste”

“Nunca conheci um estado no Brasil com uma diversidade tão grande de manifestações culturais e artísticas, aqui é único”.

Demorou um pouco pra eu subjetivar São Luís. Saca aquela frase da clássica música do Caetano, Sampa? “É que Narciso acha feio o que não é espelho”. Pois bem, foi mais ou menos nessa pegada que cheguei olhando São Luís.

Cadê o verde da mata atlântica e do mar? Ah tá estamos numa ilha...mas é no delta de dois rios? É isso mesmo? Tem duas baías aqui? Praquê essa ponte se não tem água? (e depois passando a noite pela mesma ponte) Ahhh tem água agora...

- Então dona Ana, tá chovendo porque tá no inverno agora.

- Não Bia, como assim? É verão no Brasil inteiro!

- ... (cara de descrédito da Bia olhando pra mim. Deveria estar pensando: - o que essa paulista tá falando, meu Deus!).

Aqui é tambor de mina e crioula (e mais outros que não saberia dizer quais são). Aqui tem vodun, tambor de mina e nagô, dos escravos vindos de Benin, Togo e Nigéria – países da parte ocidental da África. Aqui tem bumba meu boi, boi da maioba, boi do maracanã, boi de madre deus. Aqui é um feudo da família Sarney, onde quase dá pra tocar com as mãos a exploração contra o povo. Tem muita pobreza, o centro histórico está devastado e literalmente caindo. É o estado brasileiro com a pior rede de saneamento básico.

Então tudo parece que se desloca de minhas certezas e visões de mundo. E o único caminho a seguir é deslocar minha ótica, mais uma vez (já que estava vindo de uma semana incrível de Salvador descrita aqui, onde tive que descolar também o olhar). Só assim pra aproveitar cada segundo precioso na ilha. Ilha do reggae. São Luís é conhecida como a Jamaica brasileira. Os bares de radiolas (os paredões de som, o sound system jamaicano) já dominaram a cena noturna da cidade, no entanto no inicio do milênio o boom de reggae no país fez com que essas casas tradicionais e mais roots se transformassem em baladas pra turistas e pra elite, descaracterizando por completo a cultura regueira na cidade. Mesmo com todo esse refluxo, o Porto da Gabi surgiu com uma proposta diferenciada.

Foto do site reggaetotal.com
Toda sexta feira acontece a noite do vinil, em que só rolam as "pedras" do reggae, na maior parte vindas das bolachinhas (compactos). Público com pinta de local, chão de areia, cerveja de garrafa barata, brisa vindo do mar. Depois de 15 minutos que entrei no lugar já me senti em casa, muito a vontade com tudo, menos com a dança. Não sei dançar reggae agarradinho, em dupla. Em São Paulo acompanhamos o som da guitarra, por isso dançamos “pulando” o reggae, em São Luis o pessoal faz como na Jamaica, dança seguindo as linhas de baixo, mais lentas e envolventes. Tentaram me ensinar, mas precisaria de pelo menos mais uns meses de intensivão pra dançar com outra pessoa.

Shows foi o que não faltaram em minha passagem pela ilha. A cena independente bomba, com muitos tropeços e dificuldades, e até mesmo com certo amadorismo, afinal incentivo estatal por parte do governo é nulo, não existem leis de incentivo estaduais e nem municipal, então que temos são pessoas tocando a cena com muita paixão.

O Laborarte é um espaço que existe há pelo menos uns 40 anos, exclusivamente dedicado as expressões artísticas populares maranhenses. Um casario antigo no centro da cidade abriga um dos lugares mais charmoso e enérgico por onde passei. Lá pude ver o show do Samba da Fonte, grupo de samba, digamos assim, clássico, que toca todas as sextas feiras na Fonte do Ribeirão – daí o nome do grupo. Essa Fonte do Ribeirão tem uma história bacana, dizem que é lá onde está a cabeça da serpente gigante que dorme no subsolo da ilha. A lenda conta que a serpente encantada está adormecida, e que está crescendo lentamente. No dia em que a cabeça encontrar o rabo, a serpente despertará e destruirá a cidade, afundando a ilha no oceano. Sim meus amigos, São Luís e quase uma história de realismo fantástico de Gabriel Garcia Marques, e é isso que dá liga à cidade.

Pude ver o show de Rosa Reis tocando caixa do divino e dividindo o palco com sua filha, que canta tão bem quanto ela. Pra finalizar a noite, tambor de crioula. Aqui fico sem palavras, esse tipo de experiência mexe com o indizível. Por isso gravei um trechinho pra vocês terem uma idéia:



Também fui ao show das Afrodites, grupo feminino percussivo que mistura canto e ritmos brasileiros. Foi Cris Campos – que também participa do Coletivo Gororoba, outra banda que vale muito a pena conferir o som – que me contou um pouco mais sobre essa riqueza de cultura negra maranhense. As Afrôs são super talentosas, e cada uma das integrantes é figura ativa na cena independente. O show delas é cheio de energia, elas se revezam tocando diversos instrumentos, entre cordas e percussões. O áudio não está muito bom, mas dá um confere aí:



No dia do show das Afrôs conheci duas figuras da cena: Luciana Simões e Ale Muniz, que forma a dupla Criolina. Aqui em São Paulo acontece uma festa com o mesmo nome, que não te nada a ver com eles. Essa dupla faz música brasileira da melhor qualidade, com influência forte do que é produzido no norte do país. Músicos competentes, profissionais, que inclusive ganharam o prêmio de melhor álbum de 2011 – pelo disco Cine Tropical – do Prêmio da Música Brasileira.

Ensaio das Afrodites / Foto: Ana Mesquita 
O Criolina sacou que pra movimentar a cena na cidade, eles teriam que fazer um trampo realmente independente, daí surgiu a idéia do Festival BR 135, uma alusão à estrada que chega até a ilha, na verdade, o único caminho de chegada e partida de São Luís, inclusive de avião, pois o aeroporto fica ao lado do quilometro zero da rodovia, e todas as rotas passam por cima da estrada.

Tive a sorte e o prazer de participar da primeira edição do Festival. Três bandas tocaram no dia: Stalingrado, Nova Bossa e Pé de Ginja. Stalingrado vai na linha mais do rock clássico. Nova Bossa e Pé de Ginja têm estilos parecidos, ambas bebem na mesma fonte: Los Hermanos. É incrível a influência dos cariocas no Brasil inteiro – fiquei sabendo que um show que farão em Salvador esgotou em poucas horas.

Só que estamos em São Luís, Belém é ali do lado, e é quase inevitável não misturar as sonoridades. Das duas eu destacaria a Pé de Ginja, músicos mais competentes e focados, com maior presença de palco, e hits que disputariam facilmente as atenções das mocinhas de camisa xadrez que freqüentam os shows do Apanhador Só. A gravação que está na página deles do Facebook não é boa, mas garanto a vocês que o show deles é bom a beça. Segue um vídeo, mas já aviso, o áudio não está bom:


Outra casa que tem segurado a bronca da cena independente por lá e o Odeon. Casario antigo no centro da cidade, decoração bacanuda, a casa está preparada para receber shows, exposições e até mesmo pequenas montagens teatrais. Lá conheci a simpática e curiosa Juliana Guterres, que me contou que está abrindo uma produtora com outras duas garotas, voltada aos eventos mais alternativos da cidade. A primeira empreita das garotas foi auxiliar o coletivo Velga – os parceiros do FDE na cidade - a organizar o Grito do Rock. É um trabalho pioneiro na ilha, já que a maior parte das produtoras está interessada nos nomes de sucesso da música e artes, e a Delirium – nome da produtora – quer o underground, alternativo e marginal.

Um dos espaços  do Odeon / Foto: Ana Mesquita
De São Luís voltei pra São Paulo, que me recepcionou com garoa, céu nublado e 15 graus. A sorte é que fiquei ainda pelo menos umas duas semanas sem internet em casa, o que me fez voltar aos poucos pra rotina. Já com a internet começo a adicionar os novos amigos, conversar com as pessoas, ver o que está acontecendo por lá, e a saudade aperta.E numa conversar com Hérika, minha super amiga que gentilmente me recepcionou em sua casa em São Luís, digo:

- Amiga, é possível sentir banzo de um lugar que não te pertence?

- De uma certa forma Ana, você pertence a esses lugares.

P.S: O título faz referência a uma frase dita pra Macarena, uma chilena arretada que mora em São Luís há 16 anos. O “atoíce” é ficar à toa, sem fazer nada como nós naquele dia, bebendo cerveja num buteco. Ludovicense porque é assim chamado quem nasceu em São Luís.

Vamos aos links desse povo todo!

Coletivo Gororoba

Afrodites

Delirium Produtora

Criolina

Rosa Reis

Pé de Ginja

Stalingrado

Nova Bossa

Ana Mesquita é colaboradora do Pastilhas Coloridas e jornalista freelancer amante de cinema. Twitter: @anamesquitafoto
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Sambanzo lança segundo disco no SESC Pompéia

Sambanzo no Projeto Goma-Laca. participação de EMICIDA. / Foto: Ana Mesquita
Por Ana Mesquita | 

Acontece terça-feira, dia 13 de março de 2012, o lançamento do segundo disco do Sambanzo: Etiópia. Thiago França é o maestro desse projeto. Saxofonista mineiro, mas radicado em São Paulo já há alguns anos, Thiago participa de diversos projetos dessa nova safra de música paulistana, participando do Metá Metá (com Kiko Dinucci e Juçara Marçal), do trio jazzístico Marginals (com Marcelo Cabral e Tony Gordin) e também da banda que acompanha o Criolo, entre outros projetos mais.

O disco foi gravado em meados de 2011 num único dia, e conta com a produção do próprio Sambanzo e de Rodrigo Campos. Todas as músicas foram compostas por Thiago França, com exceção das duas primeiras, que são domínio público. As composições flertam com a música negra latina, africana, e brasileira, além é claro de alguns toques de jazz, denunciando toda a influência que Thiago recebeu nos últimos três anos, deixando evidente a trilha seguida após o lançamento de “Na Gafieira”, primeiro álbum do grupo. Os discos não são díspares, e sim complementares, e marca a evolução de Thiago como instrumentista e compositor.

Show exclusivo do Sambanzo eu nunca vi. Mas já via a banda em ação em uma ocasião muito especial: o projeto Goma Laca, no Centro Cultural São Paulo. O projeto tinha como objetivo resgatar as primeiras gravações musicais brasileiras. Sambas, lundus, maxixes foram executados por esses meninos incríveis, sobre a regência do maestro Thiago. Muitos convidados especiais e iluminados emprestaram suas lindas vozes para compor o projeto, como Marcelo Pretto, Bruno Moraes, Juçara Marçal e Luísa Maita. Foi uma noite emocionante, que me deixou muito feliz.

A partir dessa experiência posso concluir alguma coisa: o show de amanhã no SESC Pompéia será no mínimo digno assistir com atenção. Esses caras tocam juntos há algum tempo (parte desse elenco toca as sextas-feiras no Ó do Borogodó, na Vila Madalena) e o entrosamento entre eles – junto com as estrutura em que foram composta as músicas – possibilita que cada um dos músicos flerte com o improviso e a experimentação. O show será gratuito e integra o projeto Prata da Casa.

O disco está disponível pra download nesse link aqui:

http://sambanzo.blogspot.com/

Serviço:
Lançamento do disco Sambanzo: Etiópia
Onde: Sesc Pompéia – Rua Cléa, 93, Pompéia, SP
Quando: 13/03, terça-feira às 21hs
Quanto: Grátis – Retirada de ingressos 1 hora antes do show

Ana Mesquita é colaboradora do Pastilhas Coloridas e jornalista freelancer amante de cinema. Twitter: @anamesquitafoto
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