Álbuns Clássicos - DESCENDO O MORRO (Roberto Silva)


Por Marcelo Mendez

Uma vez eu quis fazer uma agrado ao meu pai.

Era começo dos anos 90, anos de chapação, loucura, fúria e êxtase. Eu meio que me atrapalhava com a ordem das coisas ae citadas mas eu tentava na medida do possível dar meu jeito e até que tudo tava indo naqueles dias. O velho tava animado...

Ia rolar um tal “Encontro Nº1” bancado la por uma marca de cerveja que ia viabilizar um show de Tom Jobim com João Gilberto não sei quantos anos depois da ultima vez e eu tinha prometido pro Seu Mauro que ia com ele e assim o fiz. Lógico; Tava mais bicudo que tucano bêbado ma la estava eu, no Palace naquela noite de afetações.

Um tal de conversinha besta, tudo muito Edificante, não tinha ninguém burro na cidade; Porque todos eles estavam no Palace pra ver o tal encontro. Da noite, além da alegria do meu pai, um nome que disse João Gilberto me chamou atenção. Ele que falava tão pouco estufou o peito e
bradou:

“Roberto Silva é o maior cantor do mundo”

Voltei falando do cara com meu pai e então fiquei sabendo que o velho tinha uma série de discos dele que bem... Ainda estão comigo, ouço de joelho sempre de tão bão que é e agora venho aqui contar o causo deles proceis ae.

Então, senhouras e senhoures com vocês DESCENDO O MORRO do grande Roberto Silva, aqui em Álbuns Clássicos.

Roberto é a classe em pessoa.

Carioquíssimo, nascido no Morro do Cantagalo no ano da graça de 1920, o amigo começa a cantar molequinho, graças a sua mãe, uma cantora afinada que sempre punha o garoto em contato com os bailes de maxixe do Rio de Janeiro dos anos 30. Por ali Roberto começa a dar suas primeiras notas com 14 anos, sempre em contato com grandes músicos com grandes boêmios. Logo aos 22 o rapaz procura seu emprego na Radio Nacional onde participa do casting da Radio. Ali conhece Paulo Gracindo que da suas primeiras chances no seu bombadaço programa dominical.

Com ele, Roberto passa a ter contato com os compositores que frequentavam as paradas todas e começa suas gravações pela Star. Grava coisas lendárias como “Mandei Fazer Um Patuá”, “Normelia”, “Perdi Você”, “Lembras Daquela Zinha”, “Escurinho”, Jornal Da Morte, “Maria Teresa”, “Crioulo Sambista”, ufa... Um sucesso atrás do outro! Como compositores só feras:

Nelson Cavaquinho, Altamiro Carrilho, Geraldo Pereira, Cartola...

Geraldo era nos anos 50 o mais pop entre os cantores do Brasil. No que pese o Brasil dos anos 50 não fazer a menor ideia do que porra era o tal “pop”. Mas Roberto tava impossível.

Respeitado pela fina flor do samba, pelo must da malandragem, chamado “O Príncipe” do Samba por Ari Barroso, e “Mistura Fina” por Cyro Monteiro que fazia alusão a elegante vestimenta do caboclo, Roberto rasgou a chegada dos LP”s logo com um arrebento:

Em 1958 recebe o convite para começar a lançar nesse formato seus antigos discos de 78 rotações. Assim nasce DESCENDO O MORRO em 1958.

No começo era pra ser um disco mas as vendagens acabaram empurrando a gravadora a lançar no ano seguinte DESCENDO O MORRO vol. 2. Resultado; Entre 1958 e 1962 DESCENDO O MORRO é lançado 4 vezes, criando então a primeira coleção de discos em série no Brasil. Vendagens absurdas! Discos disputados a tapa, sempre lançados no Natal. Era desde a essência, um clássico.

Hoje, infelizmente se tornaram raros (Embora tenham sido prensados aos milhares) e suas edições originais valem pequenas fortunas. Massss aqui em álbuns clássicos a gente num deixa vocês na mão. Vai ae embaixo os linkão pra baixar as 4 macumba, os saravá todo. No player vai o clássico JORNAL DA MORTE com todo o suingue da voz sincopada do mestre. Ae já sabem:

Marcelo Mendez é colaborador do Pastilhas Coloridas, filho da Dona Claudete, escritor e um dos responsáveis pelo cineblog Bandidos do Cine Xangai.
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