Das coisas entre Rodrigo, Jim Marshal e a paz que pode haver perto do coração selvagem. Por uma questão de leveza no futebol brasileiro

Por Marcelo Mendez

As coisas com Rodrigo Pinto sempre são leves.

O amigo fotógrafo de lentes afiadas como as de Jim Marshal, tem cara de Jerry Garcia, barba do Allen Ginsbergh, tez forte e decidida, educação de gentleman e um coração hippie de fazer inveja a Madre Tereza de Calcutá. Perto da bondade de Rodrigo, o lendário Mahatma Gandhi fica parecendo um punk de Brixton assoviando um ska de Laurel Aitkem em 1977 pelo fog de lá de terras Britânicas.

Rodrigo Pinto é definitivamente um homem bom. Nosso primeiro contato foi na sala de café da Redação do ABCD Maior. O homem barbudo veio em minha direção enquanto eu relia algo que havia escrito, me ofereceu um pedaço de seu pão com mortadela, sentou e abriu um jornal pra ler. A princípio me chamou atenção o fato de ele ler resmungando baixinho, achei que me atrapalharia e quando eu ia reclamar ele me falou:

“Vou fazer um café. Você quer? Faço dois” - Me desarmou a primeira vez. A segunda, veio em um plantão que tive que fazer junto com ele em um domingo que São Bernardo do Campo parecia Kiev...

Cheguei pra trabalhar puto da vida, irritado, por conta de ter que abandonar uma festa e mais umas alegrias na noite anterior para me preparar pro raio da tal caminhada que eu teria que cobrir no domingo pela manhã. Mas cheguei possesso. Estava eu cuspindo abelhas africanas
quando ele chegou:

“Fala Marcelo! Tudo bem, cara? Pô ta frio, mas com esse sol ae o dia fica até bonito né não?”

Não!

Tava 11 graus de manhã, um frio de fazer pinguim usar cachecol, eu o recebi com um bicão de papagaio enorme, não lhe dei bom dia e ele Feliz, me falando de sua filhinha pequena, com a mesma ternura que Louis Malle teve pra dirigir Lacombe Lucien. Mas não pode ser!!! Podia...

No meio daquele inferno todo no bairro do Riacho Grande, a paz de espírito do amigo era o que mais me chamava atenção:

“Quer um chiclete Marcelo?”

“Não!” - Respondi bicudo.

“Tem bala também, quer...”

“Não Rodrigo, obrigado...” - Respondi dessa vez com um leve sorriso saindo da minha cara. Então saquei; Era a bondade vencendo a truculência do mal humor. O dia foi ficando mais leve e ae penso que o amigo das lentes Rock And Roll bem poderia pedir liberação dos amigos
do ABCD Maior para dar uma volta pelo futebol nosso de todo dia. De certo, Rodrigo Pinto amenizaria os corações em pânico da ludopédia. Pois senão vejamos...

Ao longo da semana ultima em que tivemos um começo de redenção do meu Palmeiras coma vitória sobre a Ponte Preta por 3x0, do Corinthians sobre o esporte pelo mesmo placar, do empate do São Paulo por 1x1 na bacia das almas em Curitiba contra o Coritiba, eu deveria ter por ae os caminhos da crônica de hoje, mas os olhos da crônica não conseguem se desviar de onde a atenção clama pela pena do escriba. Começa tudo na quarta-feira.

Nesse dia, Flamengo x Atlético Mineiro se enfrentariam no Engenhão. Primeira vez que Ronaldinho Gaucho jogaria contra o Flamengão após sua conturbada saída. E então a zona norte do Rio onde fica o Estádio parecia à queda de Saigon em 1975! Policiais, cachorros, seguranças, escolta, helicópteros! Tudo por conta do medo das hostilidades contra o craque do clube mineiro. Em campo 2x1 Mengão, na arquibancada um show da torcida e tudo certo. No sábado, um hitlerzinho do antigo terceiro mundo travestido de árbitro de nome Leandro Vuaden, EXIGIU QUE O TORCEDOR DO NAUTICO RETIRASSE UMA FAIXA DE PROTESTO DAS ARQUIBANCADAS para começar o jogo. Um absurdo digno de um Médici no auge dos anos de chumbo da Ditadura Militar. A Gota d'água foi domingo no jogo do São Paulo...

Ao término da partida o jogador Lucas presenteou uma menina la de 12 anos, torcedora do Coritiba com sua camisa. Imediatamente dois hunos, safados, vagabundos colaram na menina pra tomar a camisa, proferindo xingos, agredindo o pai da pequena e o diabo. Que coisa triste...

Caros amigos, falta mais do que disse que tem Rodrigo Pinto para melhorar os corações em nosso futebol. Se os torcedores o vissem em ação pelas ruelas da feira pública do Riacho em busca de um melhor ângulo pra ele e eu trabalharmos, veriam que nada precisa ser bélico
por mais complicado que às vezes nos pareça:

“Marcelo, vem por aqui... Cara, esse pastel ae é sensacional, ta afins de um? Vai gravando ae que vou la comprar pra nós...”

Rodrigo Pinto fotografa o candidato cafona com a mesma alegria que Jim Marshal fotografou Jimi Hendrix às 06 da manhã em Woodstock. Tem a leveza de um verso de Kawabata em “A Casa Das Belas Adormecidas”. A bondade de Rodrigo arrefece os corações em pânico, pelo que ele tem de melhor. A Paz. Torcedor amigo meu, pensa um pouco nisso...

Você tem todo direito de se manifestar e tudo. Mas faça isso de um jeito que não atrapalhe o que há de melhor no esporte, que não tire de ti o que você tem de melhor, ou seja; O ludismo de sua condição de apaixonado torcedor. Porque a única coisa que pode ser mais linda que
um coração em fúria é o mesmo coração tranquilo. O Rodrigo me ensinou isso e se quiserem aprender com ele é facinho. Todos os dias ele assovia um Neil Young pelas escadas da redação do jornal. Só a gente ajudar no coro.

Like a Hurricane Mr. Rodrigo, But Like me...

Marcelo Mendez é colaborador do Pastilhas Coloridas, filho da Dona Claudete, escritor e um dos responsáveis pelo cineblog Bandidos do Cine Xangai.
Share: